domingo, 27 de março de 2011

O Início das Organizações Surdas

O ano de 1834 pode ser dito como uma grande época de início das organizações surdas. Nos banquetes que as comunidades surdas realizavam na época, falavam muito do "povo surdo" e da "nação surda", enquanto a expressão "comunidade surda" teve origem mais recente. O elo que distingue a comunidade surda de outras comunidades e faz com que a comunidade surda determine a marcação simbólica de sua diferença, não pela nacionalidade, classe, raça, etnia, mas pela cultura. Para o movimento surdo, contam as instâncias que afirmam a busca do direito do indivíduo surdo em ser diferente em questões sociais, políticas e econômicas que envolvem o mundo do trabalho, da saúde, da educação, do bem-estar social (PERLIN, 1998). Isso é bastante comum entre os grupos minoritários. E a tendência a buscar aspectos simbólicos que possibilitem a diferenciação como uma das discussões centrais entre o essencialismo e o não-essencialismo. Essencialismo: pode fundamentar suas afirmações tanto na história quanto na biologia; por exemplo, certos movimentos políticos podem buscar alguma certeza na afirmação da identidade apelando seja à verdade fixa de um passado partilhado, seja ás verdades biológicas. O corpo é um dos locais envolvidos no estabelecimento das fronteiras que definem quem nós somos, servindo de fundamento para a identidade. É importante notar que essa busca do essencialismo, em alguns aspectos, torna-se bastante insistente; em outros, ela é mais amena. Isso tudo é importante, pois sempre há espaço para trocas com a comunidade ouvinte. Sobre a designação de povo e nação surda, os surdos formam um povo sem território e que seus clubes tomam esse lugar, e eles se sentem em sua casa, no lugar onde eles dominam. Essa história de "povo surdo" começou em 1834, no momento em que os professores surdos Ferdinand Berthier (membro da Sociedade dos Homens de Letra de Paris, escritor brilhante e professor do Instituto Nacional de Paris) e Lenoir (colega de Ferdinand, mais tarde seria diretor da Escola de Lyon, na França) decidiram mobilizar os surdos. reuniram-se dez surdos, entre eles: Peysson de Montpelier e Mosca (pintores; há quadros de Peyson no Museu Histórico de Versailles na França). Se o objetivo era festejar o aniversário de nascimento do abade de L'Epée, mais tarde já se constituía uma reunião de sessenta surdos entre professores, pintores, gravadores e empregados. Eram surdos foragidos da elite da sociedade hegemônica, contudo eram surdos bastante capacitados e eficientes, eram representantes privilegiados da comunidade surda. Aos poucos, as associações foram tomando forma. De início, aqueles surdos narravam entre si suas conquistas sociais, suas capacidades e suas aptidões. É bastante certo que esses encontros provocaram mudanças como a redescoberta do passado, ou seja, da forma como aprenderam a língua de sinais e como, a partir dela, posicionavam-se socialmente. Aos poucos, eles foram percebendo suas necessidades e criando as Associações, que, mais tarde, espalharam-se pelo mundo.

Nenhum comentário: