segunda-feira, 29 de dezembro de 2014



ESTRATÉGIAS DO ENSINO DE ALFABETIZAÇÃO PARA CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL




ALFABETO - BRAILLE
"Todos temos consciência de que um professor não deve ser um mero repassador de informações, um simples repetidor de modelos já experimentados e de conteúdos diversos. Seu papel é muito mais relevante. Exige-se desenvoltura, de sua prática pedagógica, impõe-se uma compreensão exata e profunda do ofício que exerce. Por isso, acredita-se que não existe uma receita pronta de qual a melhor maneira de alfabetizar, principalmente em se tratando de pessoas que requerem uma metodologia ainda mais diversificada." Levando em conta o estudo Piagetiano, que demonstra que a função cognitiva de crianças portadores de deficiência visual desenvolve-se bem mais lentamente, comparando-se com o desenvolvimento de crianças videntes podemos afirmar que o educando deve primeiro estar consciente da grandeza e da complexidade dessa empreitada. Deve ser um observador severo e ficar atento à trajetória evolutiva do aluno que está em suas mãos, mostrando-se um estudioso permanente da área educacional em que atua e acredita. 

Antes de mais nada é preciso salientar que o professor alfabetizador deve ter uma formação diversificada e sólida para que possa compreender os mecanismos desse trabalho. Embora saibamos que muito pouco se tem feito a esse respeito, o da qualificação profissional, muitos profissionais procuram por meios diferentes formas de se capacitarem, bem como algumas instituições têm feito parcerias com ONGs e outros tipos de instituições para um atendimento mais qualificado à esse educador tão especial. 

O trabalho com esse tipo de alfabetizando requer do professor uma percepção mais sensível do processo evolutivo em que ele está. Deve lembrar que muitas vezes a criança chega em suas mãos em estado bruto e que está a espera de uma lapidação para mostrar o seu potencial. Deve procurar desacomodar o alfabetizando fazendo que o mesmo procure uma nova base em que se firmar, se reestruturar e construir um novo processo de acomodação (Piaget). Embora não haja um manual de como agir num processo de alfabetização, seja de cegos ou videntes, há, isso sim, alguns elementos que podem auxiliar nessa ação e que por muitas vezes se fazem essenciais na construção da leitura e da escrita. 

A criança deve contar com a aplicação de estratégias ou técnicas específicas para a estimulação visual, orientação e mobilidade, bem como para leitura, escrita e cálculos com materiais específicos e adaptados às suas limitações e, sobretudo, deverá contar com uma intervenção precoce iniciada o mais cedo possível, seja em casa ou na escola.(Martin – Necessidades Educativas Especiais). 

Para dar inicio à construção da alfabetização é preciso que esse alfabetizando passe por uma estimulação visual onde “aprenderá a ver” a partir de diferentes tarefas cognitivas e sensoriais, tais como:

· Tomar consciência de seus diferentes sentidos,
· Preparação para formas,
· Discriminação e reconhecimento de diferentes relevos,
· Memória e organização “visual”.

A criança cega, em processo de alfabetização necessita experiências físicas diretas com objetos que a rodeia, principalmente com os objetos de ‘escrita em branco’: o punção, a reglete, máquina de escrever, textos em relevo, ábacos, símbolos da escrita em formas táteis... A escola deverá levar ao aluno opções diversas de materiais didáticos-pedagógicos. A aprendizagem das técnicas de leitura e escrita no sistema Braille, dependem do desenvolvimento simbólico, conceitual, psicomotor e emocional da criança. Essa evolução satisfatória nem sempre se dá de forma espontânea para a criança cega. Daí a necessidade de prestar especial atenção às habilidades e necessidades do aluno cego antes de decidir o momento de ensinar o ensino da simbologia. Gostaria de mencionar, de forma bem sucinta, os fatores que interferem na aprendizagem da leitura e da escrita Braille:

- organização espaço-temporal;- interiorização do esquema corporal;
- independência funcional dos membros superiores;- destreza manual;- coordenação bimanual;
- independência digital;- desenvolvimento da sensibilidade tátil;
- vocabulário adequado a idade;- pronúncia correta (diferenciação de fonemas similares);
- compreensão verbal;- descriminação auditiva;
- motivação ante a aprendizagem;- nível geral de maturação.

Quanto ao método utilizado para alfabetizar dadas as particularidades do ensino do sistema Braille creio que o professor pode fazer sua opção, conforme o estilo “perceptivo do aluno”. Levando em consideração os fatores mencionados anteriormente, entre outros. O método fonético ou sintético tem por objetivo básico ensinar ao aluno o código ao qual os sons são convertidos em letras ou grafemas ou vice-versa, separando inicialmente a leitura e o significado. Decifrar o sistema Braille é uma decodificação de natureza perceptivo-tátil e não garante aprendizagem conceitual e interpretação necessária ao processo de leitura. Já o método silábico ou alfabético, as sílabas são combinadas para formar palavras. Em geral, quando se ensina por esse método, inicia-se por um treino auditivo, por meio do qual o aluno é levado a perceber que as palavras são formadas por sílabas ou por grupos consonantais. A partir daí o aluno assimila a forma gráfica da sílaba a qual atribui o devido som. Nesse método apresenta-se inicialmente a família silábica, em seguida, palavras, frases e textos. Para ambos os métodos deve-se propor conteúdos significativos adequados à idade, visto que a leitura, como instrumento de comunicação e de informação, será mais tarde estimulante e motivadora por si mesma. 
Durante o período de alfabetização, o aluno focaliza mais sua atenção na interpretação dos significados e nos aspectos formais da mensagem escrita. Por isso, durante essa primeira etapa as palavras e as frases que se apresentam têm de ser curtas e carregadas de um conteúdo emocional que suponha um reforço imediato ao esforço realizado. As mensagens devem apresentar-se com palavras que já tenham sido trabalhadas oralmente pelo aluno e com estruturas linguísticas familiares para ele. 

Em relação a seqüência de apresentação das letras, deve-se levar em consideração as dificuldades específicas do sistema Braille, a semelhança de símbolos, a reversibilidade, assimetria, dificuldades de percepção de cada fonema. Alguns alunos podem mesmo não aprender a ler e escrever. Isso é possível nos casos de alunos que possuem deficiências associadas a DV. Outros podem adquirir com mais lentidão a habilidade de leitura (que será desenvolvida com a prática) e escrita. Educar uma criança cega não é uma missão fácil. 

O profissional que pretende entrar neste campo de ensino, precisará saber que a criança cega ou baixa visão, é um ser que se desenvolve, que constrói, que aprende. Mas, ela apresenta necessidades específicas que reclamam um atendimento especializado e basicamente dirigido a essas especialidades. Seu crescimento efetivo dependerá exclusivamente das oportunidades que lhe forem dadas, da forma pela qual a sociedade a vê, da maneira como ela própria se aceita. 

Portanto, não há uma receita pronta e infalível para educar uma criança cega. O professor tem de conhecer o aluno que tem diante de si o sobre o qual recai sua atenção a ação pedagógica. No preparo e na coerência da prática docente pode-se encontrar soluções para grandes problemas.

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